23.2.13

Dos privilégios da idade

Só treinando para a terceira idade (aquilo que antigamente e politico-incorretamente costumava ser chamado de velhice, ugh), quando poderei dizer tudo o que penso, já que ninguém estará prestando atenção mesmo. Ô velho rabugento!

Robin Williams é chato.
Whoopi Goldberg é chata.
Barbra Streisand é chatíssima.
Fernanda Montenegro não é tudo o que dizem.
Chico é ótimo, mas é chato.
Caetano é chato e nem é mais gênio.
Não, você não é católico.
MPB é um saco.
Lula é constrangedor.
Suplicy é um mocorongo profissional.
Alckmin não é nada.
Quem fala "inclusão" é chato.
Pink Floyd é uma ótima banda cover do Pink Floyd.
Se todas as crianças são especiais, nenhuma é especial.
O papa tem um sorriso sinistro.
Mortadela é melhor que salame.
Sim, eu sou uma besta.
Osvaldo Montenegro até que é legal.

Joana

A garota morena sentada em uma das cadeiras do corredor vazio curva-se, remove os tênis gastos e calça um par de sapatos de dança envernizados que retirou de sua mochila repleta de livros e papéis. É um fim de tarde quente de verão. Não vejo o seu rosto enquanto ela está curvada calçando os sapatos, mas a luz e o pó da tarde emolduram seus cabelos. Penso que, se fosse um pintor, gostaria de pintar essa cena.

É então que meu coração estala silenciosamente e percebo, com um misto de espanto, ternura e saudade, que ela já não me pertence mais. Já não nos pertence. Não ocupa mais aquele espaço protegido, limitado e vagamente imaginário onde os pais guardam seus filhos. Tem seu próprio horário, caminhos que ignoro, desafios que deve enfrentar sozinha, segredos que nunca desvendarei. Criou sua própria arquitetura e é nela que habita agora.

Foi para isso, então: todos esses anos convergem magicamente para o momento em que ela se curva, séria e um tanto cansada pelo dia quente e longo, e calça os sapatos. Se eu fosse um estranho inventariando de maneira minuciosa e anônima todo o seu percurso, desde o momento em que madrugou para pegar o ônibus da universidade até quando cessa todo o barulho externo e ela se prepara para a dança, este seria talvez o instante em que teria me apaixonado irremediavelmente por ela.

Em minha lembrança, a luz transversal entrava por janelas altas. Havia mesmo essas janelas ou eu as inventei para compor o cenário?

23.10.09

mãe

Mãe, nesta hora você toureia sua insônia na cozinha
a casa está quieta, as janelas fechadas, meu pai fala números
nesse sonho denso que me ensinou a presença da morte
os filhos estão no mundo soltos, perplexos e impacientes
e nem mesmo terminaram a sobremesa
estão no sereno com suas brincadeiras pesadas de homens
de cada vez o abraço de despedida é mais fundo e mais urgente
e é sempre essa sensação de uma roupa que não se pôs na mala
um suéter mais grosso, mais um par de meias
umas balas de hortelã que de repente recuperam a vida
mas nada que os traga de volta à casa.

Apenas essas reuniões que te confirmam por mais um tempo
quando as pequenas derrotas são deixadas dentro das mochilas
com a roupa suja que cheira a fumaça e cheira a sêmen difuso
ainda assim o amor discreto como uma carta de tia solteira
preside a mesa, corta o pão, sorri dentro de um vinho chileno
que envelheceu anos para ser aberto com o prato errado.

Mãe, os olhos desses filhos têm uma história de olhos estranhos
como faróis de fumaça. como lâmpadas apagadas
nas rodoviárias, nos bares à meia-noite, nas camas divididas
e desses olhos seus olhos retiveram uma solidão opaca
esses braços, mãe, que lhe cercam como roseiras bravas
têm abraçado por interesse e abraçado sem interesse
abraçado por necessidade ou por solidão
como um bêbado abraça um poste desequilibradamente
e outras vezes abraçado por covardia de lutar
e se encontrarem duelando com um fantasma de muitos rostos
seus filhos são fortes, mas seu coração é antigo
e o mundo é vasto e a vontade tão móvel
que esse riso desconjuntado em torno à mesa
esperando o doce
pode ser, bem pode ser que valha a vida.

25.1.09

pardal


 

águas da prata


poços de caldas


 

gato


Apareceu no primeiro dia de janeiro, decidiu morar em minha casa por uns tempos, tomou conta do território, divertiu-se um bocado e depois sumiu antes que eu tivesse tempo de lhe dar um nome.

 

2.5.08

vercheny, frança


 
 
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